Saiba como foram os bastidores do debate dos candidatos à prefeitura de Florianópolis

O Fato&Versão cobriu o debate realizado pelo SINTRASEM e SINTUFSC nesta terça e falou com os candidatos sobre suas expectativas para a eleição de domingo.

Eduardo Reitz
7 min readNov 11, 2020

O técnico de som fez o aviso e, então, o salão Joaquina, no Centrosul, emudeceu. Era possível escutar apenas o flash ligeiro das câmeras fotográficas e o zumbir constante dos equipamentos audiovisuais. Após breves segundos, foi feito outro sinal e o silêncio foi preenchido pela música de entrada e, em seguida, a voz grave do mediador. Começava o debate dos candidatos à prefeitura de Florianópolis, organizado pelo Sindicato de Trabalhadores em Educação das Instituições Públicas de Ensino Superior do Estado de Santa Catarina (SINTUFSC) e Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (SINTRASEM).

Do lado de cá do carpete preto, que demarcava os limites do estúdio, os olhos se viravam não só à presença dos cinco candidatos e suas propostas ao cargo executivo da capital, mas também às ausências daquela noite. Além da ausência da grande imprensa, que não organizou debates e sequer cobriu os realizados de forma independente, cinco dos dez candidatos não compareceram nessa noite. Entre as cadeiras ocupadas por Helio Bairros (PATRIOTAS), Orlando Silva (NOVO), Gabriela Santetti (PSTU), Professor Elson (PSOL) e Dr. Ricardo (SOLIDARIEDADE), as cadeiras destinadas aos candidatos faltantes ficaram vagas, com uma folha indicando o nome do ausente, durante toda a sessão, mantendo 1,5 metro de distância entre eles.

Os principais nomes lamentados pelo não comparecimento ao debate foram dos candidatos Gean Loureiro (DEMOCRATAS), candidato à reeleição, Ângela Amin (PROGRESSISTAS) e Pedrão (PL). Na manhã da terça-feira, o atual prefeito da capital teria postado um vídeo em suas redes sociais no qual reclamava de “ fake news”, mas não compareceu ao debate da TV UFSC e nem ao de ontem para retificar os ataques sofridos. Já Angela e Pedrão teriam assinado nota reivindicando a realização de programas de debate pela mídia florianopolitana, mas deixaram suas cadeiras vagas na noite de ontem. Há a expectativa que os três candidatos, mais Alex Brasil (PRTB) e Jair Fernandes (PCO), compareçam ao debate organizado nesta quinta-feira (12) pela OAB e LIDE Santa Catarina.

Debate nos tempos de pandemia

Para entrar na sala Joaquina, com vista à Baía Sul e à Passarela Nego Quirido, era necessário passar pelos exames que se tornaram hábito na pandemia. Aferi a temperatura: 36,5 graus. Passei álcool em gel nas mãos e entrei.

As cadeiras estavam bem espalhadas por todo o salão e o número de participantes era reduzido para a segurança. Os funcionários dos sindicatos ficavam à esquerda, os assessores dos candidatos à direita e, no centro, a equipe de filmagem.

No carpete preto que marcava os limites do estúdio, contudo, a impressão era outra. Lá os candidatos podiam ficar sem máscara, enquanto o resto dos presentes as portavam o tempo todo. Todavia, as recomendações sanitárias foram seguidas. As discussões não ocorriam no clássico modelo “frente a frente”, como se está acostumado, e as perguntas eram feitas e respondidas pelos candidatos de suas próprias cadeiras.

O debate correu tranquilamente, com a maioria das perguntas voltadas ao funcionalismo público, seguindo o perfil dos organizadores que foram o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (Sintrasem) e o Sindicato dos Trabalhadores da UFSC (Sintufsc). Todos os candidatos, a exceção de Orlando Silva, argumentaram pela valorização dos servidores. O candidato do NOVO falava em contrapartida da defesa do cidadão e do “bom funcionário público”. Não por acaso, ele e Gabriela Santetti, dois contrários no espectro político, protagonizaram as discussões mais engajadas.

Porém, a temperatura do debate não subiu, mesmo com essas discussões, permanecendo sempre ameno e tangenciando a ausência dos outros cinco candidatos. Apesar disso, alguns dos convidados suavam. Isso não pelo nervosismo ou movimentação performática, mas sim pelo calor da noite abafada que, mesmo com as janelas escancaradas, acompanhou a sessão inteira.

Bastidores dos debates

Na frente e atrás das câmeras, o debate ocorreu muito ameno, em clima quase amistoso. Durante os intervalos dos blocos, os candidatos se reuniam para conversar, com uma aparente intimidade, à exceção dos candidatos Orlando e Gabriela, estes dois quase opostos ideológicos na gangorra política.

Gabriela Santetti especialmente aproveitava das pausas para ver sua filha Alice, de sete meses, que levou junto ao Centrosul. Professora da rede pública e socialista, a candidata foi uma das primeiras a chegar ao centro de eventos. Talvez para compensar o debate anterior, já que afirma não ter sido chamada à discussão organizada pela TV UFSC. Chegou com a filha em uma cestinha e vestia uma máscara com os dizeres “ Fora Bolsonaro e Mourão”, que só retirou quando foi convidada a abrir o primeiro bloco de discussão. Na contramão dos demais partidos de esquerda da capital, unidos sob a legenda da “ Frente Democrática por Floripa “, o PSTU se lançou sem coligações para a corrida eleitoral como “uma alternativa de ruptura” ao jogo político, como a candidata define. Ela ainda criticou a suposta unidade das esquerdas por não querer trabalhar com o plano revolucionário na política, que “inclusive se reuniu com setores da burguesia e do Estado”.

Na capital, a esquerda se uniu sob a candidatura de Elson Pereira, do PSOL, para prefeito, e o vereador Lino Peres, do PT, como candidato a vice. Também com um projeto de oposição ao governo Bolsonaro e herdeiro da experiência da Frente Popular que governou a cidade no anos de 1990 com Sérgio Grando e Afrânio Boppré, a atual frente de esquerda traz o professor de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) na cabeça de chapa e a experiência de concorrer pela terceira vez ao cargo executivo de Florianópolis. Apesar da terceira disputa, Elson nunca ocupou um cargo eletivo na política. Com um olhar cerrado, o candidato argumentou que sua falta de experiência não seria um problema. Com a voz calma e pausada, o professor disse que a “experiência é sempre bem-vinda”, mas que sobretudo ela é compartilhada. “É um conjunto de pessoas, inclusive os próprios servidores de Florianópolis”, e complementou citando sua formação na área do planejamento urbano, atuando com prefeituras dentro e fora do país.

Pergunta similar foi feita ao candidato Orlando Silva, também professor da UFSC no curso de Direito: como deve ser um intelectual fazendo a gestão pública de uma cidade? O Partido Novo, criado em 2015, abraçou o espaço do movimento liberal no Brasil até então e apresentou entre seus candidatos empresários, juristas e profissionais de fora do campo político. O que dubiamente anima e causa receio à grande parte do eleitorado. “Eu não sou só um intelectual sem vida prática”, falou o candidato citando sua participação nos processos de compras governamentais e conhecimento da “máquina pública”. Segundo o advogado, ele também já chegou a administrar um escritório de advocacia com mais de 50 funcionários. Orlando ainda espera uma surpresa do NOVO nessas eleições.

Surpreendido também ficou Dr. Ricardo, quando questionado sobre as pesquisas do Ibope deste mês de novembro, no qual estava classificado entre as últimas posições com 0%. A pesquisa apresentou uma possível vitória do prefeito Gean Loureiro no primeiro turno, mesmo após a configuração de um escândalo contra ele. “A minha expectativa quanto às pesquisas do Ibope é que elas sejam bem feitas”, disse Ricardo, “porque 600 pessoas pesquisadas não refletem em lugar nenhum do mundo uma opinião”. A pesquisa em questão foi encomendada pela NSC Comunicação entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro, entrevistando um total de 602 pessoas. O candidato ainda afirmou estar ciente do tamanho de sua coligação e espera que o voto popular eleja o melhor para a cidade.

Helio Bairros foi último a chegar e o primeiro ao sair com o fim do debate e não pôde ser contatado até o momento pela equipe do Fato&Versão.

O debate durou quase três horas com apenas os cinco candidatos. De canto, ouvi um dos técnicos do audiovisual falar: “se tivéssemos os dez candidatos, o debate ia durar até amanhã”. E de fato este foi o questionamento contínuo durante toda a noite: onde estavam os ausentes e por que não compareceram? Os candidatos presentes se reuniram em círculo ao centro do estúdio. Dr. Ricardo e Gabriela argumentaram para levar o questionamento a público no horário eleitoral gratuito. “Talvez no horário do Elson que tem mais tempo. Quinta-feira já pode sair”, sugeriu. Gabriela ainda insistiu na observação da participação de todos pela troca de ideias.

Feito isso, os candidatos foram deixando, um a um, o Centrosul. No estúdio, funcionários e associados de ambos os sindicatos tiravam fotos e estavam satisfeitos com a realização do debate. Apenas próximo à meia noite o centro de convenções foi fechado e o cenário já havia sido desmontado, sobrando apenas o esqueleto do estúdio na sala Joaquina. Na rua fazia calor, apesar do horário, mas chovia. Um pingo pesado escorregou pelo telhado e caiu sobre minha testa. Com a sensação de compactuar com a promoção dos valores democráticos, o Fato&Versão encerrou a cobertura naquela noite e eu cobri meu primeiro debate.

Para assistir ao debate gravado, você pode acessar o Facebook do SINTRASEM. Além disso, acompanhe as redes sociais do Fato&Versão na cobertura das Eleições Municipais 2020. Já estamos produzindo conteúdo sobre o pleito e estaremos na rua durante todo o domingo publicando mais informações para acompanhar as eleições em Florianópolis e em Palhoça, que são municípios onde a Unisul têm suas unidades na região.

Originally published at http://fatoeversao.home.blog on November 11, 2020.

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